Sunday, January 04, 2009

Onde devemos colocar os carros?

“Where shall we put the cars?”


Este era o título de uma das muitas palestras que assisti na Inglaterra, no começo dos anos 80. A mim soava um tanto prematuro abordar aquele assunto, no Brasil de então.

Porém, hoje em dia, quando se começa a falar em “rodízio de placas de veículos” em Curitiba, busco na memória os ensinamentos que recebi, embora já tenha escrito um artigo sobre este assunto, sob o título Gerenciamento da Demanda de Transportes.

A demanda, na verdade, é por espaço em vias. Como dizia Peter Hills, de saudosa memória: “O transporte urbano é função do uso dos edifícios”. Uma grande verdade, que os planejadores e urbanistas abordam como “Transporte e uso do solo urbano”.

Dizia o Professor Peter Hills que as atividades desenvolvidas nos edifícios geram a demanda por transporte em cada ponto da cidade. Não apenas demanda para transitar, mas também para estacionar. Não é à toa que estacionamento é uma grande oportunidade de negócios.

Um dos méritos do Engenheiro Hills foi o de contribuir para o sistema de pedágio implantado na área central de Londres. Só quem dirigiu em Londres, antes do pedágio, sabe avaliar o que significava tentar ir a algum destino, na área central, em horário de pico.

Considero os planejadores Britânicos exemplares em muitos aspectos. Um deles é em transportes urbanos. Para tal finalidade montam laboratórios nas universidades e recebem milhões de libras para pesquisas e desenvolvimento de soluções tecnológicas para o governo e para as empresas. Um desses laboratórios era conhecido como TORG – Transport & Operations Research Group, da Universidade de Newcastle.

A preocupação com o transporte urbano na Inglaterra começou a ser estudada sistematicamente a partir do trabalho Traffic in Towns, produzido - a pedido do Governo Britânico ao ilustre Lord Buchanan,que por ironia do destino teria falecido num acidente de trânsito, em Londres.

Percebe-se que a população de automóveis cresceu no Brasil e cresceu muito mais em Curitiba. Há previsão de que continue a crescer, mesmo com o pequeno crescimento do PIB e com os custos crescentes dos combustíveis.

Contudo, há um grande problema: o sistema viário de transporte urbano é um parâmetro de uma inequação, isto é, ele é fixo e alterá-lo implica em elevados investimentos.

Quais seriam as soluções possíveis? Há algumas, que devem ser pensadas e implementadas no devido tempo, com todas as dificuldades que aparecerão.

Uma delas está no artigo acima mencionado; outra é a redução de estacionamentos ao longo dos meio-fios, em algumas vias – a exemplo do que foi feito na Avenida Visconde de Guarapuava, em Curitiba; quiçá a abertura de vias interrompidas; e a construção de “trincheiras” seja outra solução; talvez a adoção de binários, que aqui deram tão certo, seja outra; porém como última medida eu recomendaria o rodízio de veículos, a qual seria mais apropriada a grandes cidades, tipo São Paulo - para reduzir a poluição atmosférica – o que não é o nosso caso, ainda.

Sugiro, no entanto, uma medida muito mais necessária: a criação de um grupo de pesquisa e planejamento de transporte urbano, que poderia funcionar unindo as universidades ao IPPUC, para pensar as soluções para Curitiba e outras cidades e, com isso, evitar o futuro caos urbano.

A idéia está lançada.